Quem antes percorria os cruzamentos mais conhecidos de Campinas, tais como a Rua 13 de maio e a Avenida Francisco Glicério, já estava acostumado com a cena de vai e vem de pessoas apressadas, aglomerações próximas a artistas de rua e nas portas das lojas, e com o som ensurdecedor dos veículos transitando de um lado para o outro, diariamente, e praticamente sem folga.

No entanto, a quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus trouxe um novo cenário para a cidade. Ruas, avenidas e becos vazios.

Com o isolamento social, o fluxo de pessoas nas ruas caiu drasticamente, principalmente no começo do isolamento entre o final de março e início de abril, promovendo um momento singular e que campineiro nenhum imaginou vivenciar um dia de sua vida.

Foi então que o engenheiro Adriano Aurélio Araújo decidiu registrar o período histórico por meio de filmagens.

Na tarde de uma terça-feira do mês de abril ele pegou sua bicicleta, colocou seu drone na bolsa e rodou pelos lugares mais conhecidos do município.

Com um tom apagado e ao som de uma música dramática, Adriano fez das ruas vazias de Campinas uma arte.

Enquanto realizava o trajeto, o engenheiro diz que seu coração se encheu de melancolia ao ver as principais avenidas, que antes eram palco de um trânsito caótico, sendo frequentadas apenas por um ou outro gato pingado.
As filmagens feitas por ele flagraram um silêncio e um vazio que marcará para sempre a história da cidade.

Ele conta que a ideia surgiu após assistir vídeos semelhantes feitos em metrópoles famosas, tais como Nova York, São Francisco e Milão, também vítimas da covid-19. Apesar de acreditar que o momento jamais será esquecido por quem tem vivenciado, ele ressalta a importância de deixar registros para a posteridade.

"Eu falei: poxa, Campinas é a cidade que eu nasci e vivo, eu quero fazer algo parecido para deixar registrado. Eu quero fazer algo sobre a cidade que eu amo, para que após dez ou trinta anos tenha um registro de como foi esse período aqui na nossa cidade", revela.

A trilha sonora foi minuciosamente escolhida por ele, a fim de reproduzir com precisão a sensação de como é estar isolado. "Eu escolhi uma música que chama Isolation (na tradução, Isolamento), que batia direitinho com o sentimento que eu queria passar para o vídeo, que é de tristeza, mas também de esperança e desejo de que tudo volte ao que era antes", conclui.

Nas filmagens o morador trouxe imagens da Avenida Francisco Glicério, da Igreja Matriz, Basílica do Carmo, Av. Júlio Mesquita, região do Comércio Popular, Praça Bento Quirino, Av. Campos Sales, Av. Senador Saraiva, Rua 13 de Maio, Av. Dr. Moraes Sales, Viaduto Cury e, por fim, os portões fechados do Mercado Municipal.