Destaques | Jeozadaque | 26/09/2009 11h15

Nilvana Mujica fala ao Ensaio Geral sobre a carreira e a seleção do Salão de Artes de MS

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nilvana_fotoApaixonada pelas artes plásticas, “Nilvana Moreno Mujica” se diz campo-grandense de coração, e há dois anos apresenta toda a sua criatividade através da arte. Natural de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, Nilvana veio para Campo Grande com apenas sete anos de idade. Aos 17, Nilvana voltou para São Paulo, onde morou por quatro anos. Após este tempo a futura artista plástica sentiu saudades da Capital e resolveu voltar de vez para a Cidade Morena, “Voltei em 1992 e nunca mais saí daqui. Escolhi Campo Grande para viver pela excelente qualidade de vida que temos aqui, pelo contato com a natureza , pelo por do sol avermelhado do cerrado, enfim. Também porque acredito nas oportunidades que a cidade oferece a acho que aqui as coisas estão por serem feitas e a gente pode crescer junto com a cidade”, disse a artista. Foi durante o curso de Publicidade e Propaganda que Nilvana teve o primeiro contato com a arte, “Tínhamos aulas de História da Arte e aí comecei a ter contato com este universo instigante para mim”. Após de se formar, a artista começou a fazer cursos na área artística e passou a “viver” as artes plásticas. Apesar de pintar há alguns anos, a artista define que trabalha profissionalmente há dois anos com as artes plásticas. Nesse tempo, Nilvana já apresentou suas obras em Dourados e em diversos locais da Capital, como Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul (Marco), Galeria Wega Nery, galeria do Sesc Almirante Barroso e no Espaço Cultural da Unipsico. Entre os trabalhos de Nilvana estão às exposições “Espera”, “Borboletando” e a mais recente “Cores da Cidade Branca”, que não traz telas, mas sim a reprodução dos azulejos hidráulicos da cidade de Corumbá. Neste trabalho a artista não usou tinta e  sim adesivos de vinil. A arte pode ser visitada até o dia 8 de setembro no Marco. Em entrevista exclusiva ao site de cultura regional “Ensaio Geral”, Nilvana falou um pouco sobre a sua arte e a emoção de ser uma das selecionadas para o Salão de Artes Plásticas de Mato Grosso do Sul. Confira. Ensaio Geral: Desde quando você começou a se interessar pelas artes plásticas? Nilvana Mujica: Na faculdade de Publicidade e Propaganda que fiz em São Paulo,. Passei a fazer curso de desenho artístico em São Paulo no ano de 1988. E comecei a me apaixonar pelas artes plásticas. Comprei muitos livros de arte que devorava intensamente. Adorava ler sobre a vida dos pintores, conhecer suas obras, identificar escolas. No começo foi um interesse mais intelectual pela arte. Queria ler sobre isso. Não pensava ainda em “fazer” arte. Mas com o tempo fiz cursos com artistas plásticos daqui como a Gisele Spengler, a Priscilla de Paula Pessoa e o Evandro Prado. O contato com estes professores artistas foi o maior estímulo à minha produção. A partir daí passei a fazer arte e descobrir o imenso prazer do processo artístico. EG: Você fez algum curso para aprimorar a sua arte? NM: Sim, vários. Primeiro aulas com o professor Celso Calixto em São Paulo de desenho artístico por mais de 12 meses. Ainda em São Paulo fiz curso de Computação Gráfica. Depois já de volta à Campo Grande fiz curso de História da Arte num curso particular com o professor José Manoel de Souza Neto e mais adiante fiz curso de desenho e pintura com Gisele Spengler aqui em Campo Grande. Foi com a Gisele que comecei de fato a produção em arte e continuei o curso com ela por mais ou menos 12 meses. Fiz também aulas com Priscilla de Paula Pessoa e Evandro Prado. A alguns anos participo dos cursos ministrados por Charles Watson do Rio de Janeiro. Com ele já fiz os cursos “O Processo Criativo” e já participei de diversos “Dynamic Encounters”que o Charles promove em São Paulo,no Rio e nas Bienais para se ver e se discutir a arte contemporânea. Além disso, sou “rata” de exposições de São Paulo. Sempre que vou a São Paulo, visito várias exposições legais que estão em cartaz. A última que vi foi agora em Setembro foi a ‘Cuide-se “da artista contemporânea francesa Sophie Calle. EG: Quando você expôs pela primeira vez? Em qual cidade? NM: A minha primeira exposição foi a exposição “Espera” em Campo Grande no início do ano de 2004.  EG: De onde você tira a inspiração para pintar as suas telas? NM: Tem uma música da Alzira Espíndola que fala sobre a inspiração. A letra é ótima e é exatamente como acontece. Mas não me lembro agora. Para mim a inspiração vem de onde? Vem de uma folha que cai com o vento, do carro que passa, do casal que se beija, vem de um cheiro na memória, vem de uma palavra que desperta, vem de algum lugar no passado, vem de interesses e cores, vem da viagem, vem da vida, vem da gente, vem do mundo, vem de Deus. EG: Qual é a parte mais difícil de se trabalhar com as artes plásticas? E a mais recompensadora? NM: A coisa mais difícil é você encontrar o seu caminho próprio nas artes plásticas. É achar a sua identidade única neste caminho. Como muito ou quase tudo já se fez, como inovar, como criar algo novo, algo original, algo seu e que reflita a sua identidade nas artes plásticas, a sua visão de mundo, a sua linguagem. Isso é o mais difícil. Outra parte difícil é o processo de criar, é a dor que dá a criação que está lá e que ainda não saiu. Às vezes a gente sofre no processo criativo. Você tem uma idéia e por vezes não está conseguindo trazê-la para fora, para a tela, para a idéia do projeto enfim. Às vezes é literalmente um parto e dói, (risos). A parte mais recompensadora é estar no ateliê, pintando, envolta às tintas e aos pincéis com a cabeça tão concentrada, tão concentrada, que não pensa em mais nada. A gente voa enquanto pinta. A cabeça vai não sei pra onde, num lugar alheio ao tempo, ao cotidiano pesado do dia-a-dia, num lugar que tem outra velocidade, acho que gente viaja enquanto pinta, voa livremente e levemente e limpa a cabeça. Se reabastece pra vida! EG: Em média, quantos quadros você já pintou até hoje? NM: Difícil dizer. Não sei bem ao certo. Mas não foram muitos não, pois comecei a levar mais a sério a pintura a cerca de 2 anos mais ou menos. EG: Existe alguma tela que você pintou e a considera a mais trabalhosa até hoje? NM: A mais trabalhosa é sempre a atual. Aquela que está no cavalete à espera de sua solução. Mas eu já pintei algumas que foram bem difíceis de executar. Na exposição “Borboletando” tinha uma tela que tinha uma flor de Maracujá pra pintar. A danada da flor do Maracujá tem um monte de astes em volta de seu centro. Sabe? Pois é, estas astes me deram um trabalhão grande para resolvê-las, mas consegui! EG: E a mais fácil? NM: Nunca tem tela fácil, não é mesmo? Em cada tela a gente tem que se dedicar com intensidade para que saia única, bem resolvida, bem trabalhada naquilo a que ela se propõe. Cada tela é uma oportunidade para o nosso aprimoramento, para o nosso crescimento artístico e cada tela é que te diz os caminhos. A gente tem que saber “ouvir”o que aquela tela quer da gente a cada pincelada e isso é sempre difícil. EG: Você possui algum ateliê? NM: Sim. Nos fundos da minha casa fica o meu ateliê em meio ao meu jardim e as minhas flores. Quando o trabalho é digital, trabalho na minha agência de propaganda em horários alternativos. EG: Na exposição “Borboletando” você utiliza tecido e pintura, de onde veio a idéia de unir essas dois elementos? Desde o início você acreditou que daria um efeito tão legal? NM: Eu não fui a primeira a usar o tecido como parte da obra. Tem outros artistas que já fizeram isso antes de mim, até mesmo aqui no estado. No cubismo, Braque e Picasso usavam de muita colagem nas telas. Mas a minha idéia era criar com os tecidos uma estampa para as pétalas das flores, e acho que deu esse efeito legal do qual você fala porque ficou completamente integrado com a pintura. Pensei muito e pesquisei muito para escolher os tecidos certos para cada tela. Mas com os tecidos veio o interesse pelas estampas, pelos padrões, que acabou gerando o trabalho “Cores da Cidade Branca”, usando os ladrilhos hidráulicos de Corumbá. EG: Explica um pouco sobre a exposição “Cores da Cidade Branca”. NM: Neste último trabalho usei como referência os padrões dos azulejos hidráulicos da cidade de Corumbá . Criei com eles uma espécie de estampa multicoloria e adesivei todo o chão de uma sala do MARCO. É um trabalho bem diferente que não usa as paredes e acontece no chão como suporte. É um trabalho digital que não usa a tinta como técnica e sim o adesivo de vinil. É um trabalho que resgata a História de Corumbá e de seu apogeu com os ladrilhos hidráulicos de suas casas centenárias, mas de maneira contemporânea, revisitada e alterada. EG: Aqui na Capital você já expôs em diversos locais, onde mais você gostaria de expor? NM: Charles Watson me disse uma vez, que existem dois tipos de artistas: “os que pintam para expor e o que expõem porque pintam”. Acho que eu me enquadro na segunda categoria. O que quero mesmo é pintar, é o processo de criar, de inventar, de descobrir. Eu me interesso pelo processo, quero me aprimorar mais, quero aprender mais, pois estou apenas no começo, quero estar no ateliê, quero produzir. E se isso me levar para outros lugares para expor tudo bem, mas não tenho grandes ambições de expor aqui ou ali. Quero é pintar, quero é criar e vou aonde essa arte me levar. EG: Você é uma das contempladas pelo Salão de Artes de Mato Grosso do Sul, o que significou isso para você? NM: Foi uma grande conquista para mim pelo sentido de ter uma equipe de críticos que avaliou o meu trabalho e o considerou com qualidade para estar no Salão. Só de estar entre os selecionados já foi uma vitória e estou muito satisfeita com isso. É importante que outras pessoas avaliem o seu trabalho, critiquem o seu trabalho, pois é só com o olhar do outro que nossa obra se completa, não é mesmo? EG: Como você vê o mercado de artes plásticas na Capital? NM: Temos aqui pessoas maravilhosas que já trilharam os caminhos do início das artes plásticas no MS como nosso querido Humberto Espíndola, por exemplo, um desbravador, que tem obras expostas até na Pinacoteca do Estado de São Paulo e que recentemente participou de uma exposição lá em São Paulo. Ele e tantos outros precursores anteriores como a Wega Nery e como a Lídia Baís. Essas pessoas têm muito valor para mim, são lutadores, são desbravadores, eles é que começaram as artes plásticas aqui . Mas em termos de mercado, mercado mesmo, o MS ainda está nos primeiros passos. São poucos galeristas, não temos grande público para as mostras e para as exposições e o mercado é muito restrito ainda. Tem que trabalhar a arte educação, as pessoas de modo geral tinham que conhecer mais sobre arte, se interessar mais por arte, visitar as nossas exposições, conhecer os nossos artistas. EG: Você acha que falta mais apoio da Fundac e da FCMS para as artes plásticas na Capital e no Estado? Por que? NM: Eu acredito que, para se desenvolver mais, o mercado das artes plásticas no MS precisa de mais investimentos em arte educação, em preparar as pessoas do MS para conhecer mais artes plásticas e valorizar as produções artísticas locais. Tem que ter mais Salões de Arte, mais intercâmbios com artistas de fora para trazer obras para cá, enfim… temos que entrar mais no circuito das artes plásticas nacional e trazer novas informações para cá. EG: Você está trabalhando em alguma nova exposição? NM: Sim. Estou finalizando o projeto apresentado para o Salão de Artes Plásticas do Mato Grosso do Sul e que já foi aprovado. Tenho que finalizá-lo agora. EG: Tem mais alguma exposição em vista para este ano? NM: Este ano já trabalhei demais (risos). Fiz três exposições individuais e ainda teremos o Salão de Artes Plásticas em, dezembro deste ano. Serão quatro exposições minhas em apenas um ano, está bom já. (risos). Ensaio Geral: Para encerrar nossa entrevista, deixa um recado para as pessoas que estão começando agora na carreira das artes plásticas. Nilvana Mujica: Você tem que amar o que faz. Tem que sentir o seu coração vibrando naquilo que estiver em suas mãos. Acredito que o mais sábio é não querer ser o melhor naquilo que fizer e sim ter a certeza de que você fez e deu o “seu” melhor naquilo que estava executando. Quando a gente mergulha de cabeça naquilo que é apaixonado, a gente se dedica, se esforça, se aprimora e consegue colocar o “seu” melhor em suas obras. Outro conselho é: ame o processo, se dedique ao processo. Os resultados não importam tanto. Não pense no resultado final, não almeje o resultado final, apenas mergulhe no processo intensamente que esses resultados poderão até vir, mas não serão os resultados os mais importantes e sim o seu prazer no fazer. Foto: Arquivo pessoal de Nilvana Moreno Mujica Por Luciana Navarro

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