Giradança promove a cidadania com inclusão de bailarinos
A Companhia Giradança, do Rio Grande do Norte, se apresentou na noite deste sábado (26.05) no Centro de Convenções Miguel Gomez, em Corumbá, durante o 14º Festival América do Sul Pantanal. A Companhia trouxe o espetáculo “Alguns Outros” (“Die Anderen”, título original em alemão), realizado em parceria com a Cia. Toula Limnaios, da Alemanha, inspirado na palestra radiofônica “O Corpo Utópico”, realizada pelo filósofo francês Michel Foucault em 1966.
A Companhia tem como diferencial a inclusão de bailarinos com diferentes características corporais. “Nós temos o pensamento diferenciado entre corpo, pessoa e sujeito. O corpo é sujeito, somos sujeitos. A ideia é manter o espaço do autoconhecimento e promover os bailarinos que são gente, expressar-se enquanto sujeito engajado na sociedade”, diz o diretor, Alexandre Américo, que dirige o grupo desde o início deste ano.
Ele explica que ano passado a companhia alemã Toula Limnaios veio para Natal para ajudar na construção do espetáculo “Alguns Outros”. “A partir da improvisação elaboraram o material, fizeram essa edição com um trabalho maior com característica dramatúrgica. Fizemos uma temporada de 12 apresentações na Alemanha. Estamos voltando para mais doze. Estou super feliz com este trabalho”.
O bailarino Marconi teve poliomielite e entra em cena com e sem cadeira de rodas. Ele entrou para a Companhia devido a um convite do antigo diretor, que ressaltou sua agilidade e a possibilidade de abrir portas para outros cadeirantes. “Fui assistir os ensaios e me identifiquei bastante. O Giradança tira do público esta visão de as pessoas virem um deficiente em cena, é o contexto de tudo que está sendo mostrado. Esta forma de dançar tirando a deficiência de lado e mostrando o trabalho de um corpo dançante já é o desafio. Desde que ele seja mostrado em cena de forma não piegas”.
Joselma perdeu a visão com 24 anos e começou a dançar depois disso. “Decidi que eu não queria permanecer na redoma e no comodismo, aí resolvi começar na dança. Comecei no balé clássico e depois fui para o contemporâneo”. Sua colega Jânia tem nanismo e entrou para a companhia por meio de um convite. “Não sabia o que era dança contemporânea. De tanto me chamarem eu fui e me encantei. Achei que era fácil. Que nada! Eles estavam num processo de criação coletiva. Eu falei: ‘eu vou embora. Isso aqui é lugar de louco! Eu nunca vou criar minha dança. Mas persisti e hoje estou aqui’”.
Álvaro começou a dançar na igreja. “Comecei no balé clássico, mas sempre fui gordinho, tinha barriguinha, e não consegui. Daí fui para a dança contemporânea”. Wilson Júnior tem síndrome de down e ressalta o carinho que todos têm por ele na Companhia. Quando conheci o Giradança, me cuidaram também, o antigo diretor nos amou. Entrei em 2011, fiquei até hoje. É bom participar”.
Para o bailarino Iego, cidadania é respeitar as características de cada um. “Pensar como cidadão na dança é respeitar a individualidade que cada um tem e reeducar começa daí, um olhar mais sensível para o corpo do outro, que tem necessidades diferentes do meu, de se descobrir. Eu como indivíduo me encontro no outro. Na democracia é que surge o respeito à diferença, que é a cidadania”.
Ele veio do balé clássico, mas não conseguiu se adequar ao condicionamento que esta modalidade exige. “Sempre tinha comigo que eu tinha uma coisa diferente, que eu era um animal que não conseguia se domar pela coisa clássica. Recebi o convite em 2016 para entrar na Companhia e foi onde me encontrei, me reconheci como o artista da dança. O Giradança tem essa identidade de fazer com que o indivíduo se encontre na dança e se profissionalize”.
Taíse Galvão está há dois anos na companhia. É formada em balé clássico mas começou a pesquisar sobre balé contemporâneo para entrar para o grupo. “É bem emocionante porque eu comecei como plateia. Cresci vendo dança contemporânea, aí surgiu o convite e vim”.
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