Destaques | Jeozadaque | 05/01/2012 21h26

Depois da capa da Época, Michel Teló gera polêmicas seguidas de polêmicas

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Quem tem Facebook e Twitter como rotina não cansa de criar polêmica. Michel Teló virou uma das questões preferidas dos últimos 3 dias, depois de ser capa da Revista Época, apresentado na reportagem como o representante da cultura brasileira no mundo. As primeiras reações foram de ataque, mas na sequência vieram artistas do Brasil, incluindo colegas de Mato Grosso do Sul, em defesa do astro brasileiro do momento, sucesso em todos os cantos do planeta com o “Ai se te pego”. O bate-boca virtual ganhou força depois que o tecladista do grupo Los Hermanos publicou no blog pessoal uma carta aberta a Michel Teló. Bruno Medina começa o texto desejando feliz 2012 para o colega e lembra que o reveillon não foi lá essas coisas porque a noite acabou tomada pelo debate sobre a edição da Época. “Ao invés de comer uvas ou pular 7 ondinhas, os presentes preferiram se dedicar a calorosas discussões sobre temas como direito de expressão, identidade cultural brasileira e tolerância, com direito a argumentos do quilate de 'é proibido proibir' e 'não quer ouvir, tape os ouvidos'. Como se não bastasse, minha mulher – que por razões injustificáveis ainda não conhecia o hit do verão – deixou o local entoando os versos”, reclamou. Depois, o tecladista compara a canção com o primeiro sucesso do Los Hermanos, a música Anna Júlia. “Na época em que Anna Júlia foi lançada, ao menos, não havia Youtube, o que certamente poupou nossos detratores da infindável proliferação de clipes da música, protagonizados por bêbados gregos dançando em Ibiza ou por italianos solitários cantando o refrão pegajoso em frente a webcam...” Em outro trecho prevê: “provavelmente daqui a dez anos você ainda será amado ou odiado por causa de “Ai se eu te pego”, portanto faço votos sinceros de que consiga construir um legado musical consistente o bastante para evitar que todo seu trabalho seja tomado por uma só música”. Os comentários animaram a turma contrária ao sucesso, irritaram os fãs e levaram artistas e intelectuais a tomarem partido. Edmar Bulla, especialista em marketing digital, publicou um artigo sobre o fenômeno Teló. “Dizer que Michel Teló não faz parte e não representa também, neste momento, a cultura brasileira, é ser tão puritano quanto os católicos que queimaram bruxas há anos. Seja Gretchen, Legião Urbana ou Michel Teló, todos fazem parte do nosso código cultural. Ignorar isso é atestar a própria ignorância, bairrismo, regionalismo ou, pra ser mais direto, isso é puro preconceito! Posso não gostar de Michel Teló”, escreveu na revista digital Administradores. O vocalista da banda Detonautas, Tico Santa Cruz lembrou que a filha de 3 anos introduziu o hit no cotidiano da família. “Achei divertido a forma como se disseminou e simpático com um artista que provavelmente nunca imaginou que isso pudesse acontecer, enquanto outros já estavam com milhares de estratégias montadas para atacar o mercado internacional, cheio de regras e com especialistas programando tudo minuciosamente, conseguiu chegar lá. Alguns chegaram a insinuar sucesso internacional, mas sabemos que não passaram de blefes, porque em geral, quem consome este tipo de “sucesso internacional” são brasileiros que vivem no estrangeiro. Teló não, ele atingiu mesmo os estrangeiros e seu viral pegou muita gente de calça arriada... e isso me divertiu, porque sei como funciona o meio musical e o quanto deve ter empresários arrancando fios de cabelo nesse momento”. Na sequência, veio a resposta de Bruno Medina. “Nem sei se é necessário reafirmar isso, mas quero deixar registrado que não tenho nada contra o Michel ou o sertanejo universitário, muito pelo contrário; torço sinceramente pelo seu sucesso no exterior, assim como torço sempre para que qualquer representante da música brasileira ocupe uma posição de destaque no cenário mundial”. De Mato Grosso do Sul, os apoios via Twitter ou Facebook surgiram logo. “Se Michelzinho me chamar pra backing...vou correndo e ainda danço Ai se eu te pego...”, escreveu a cantora Juci Ibanez. Guilherme Rondon engrossou a discussão, também favorável a “Michelzinho”. “É bom músico, tem anos de estrada,a banda dele que gravou o sucesso é quase toda aqui da nossa terra, os músicos vão se dar bem, 100 milhões de acessos no You Tube!!!A música brasileira mais vista na internet de todos os tempos , sucesso mundial e ainda gravou uma musica minha”, elogiou o cantor e compositor, lembrando que Teló gravou a canção Vida, bela vida. Na internet, Michel é “inocentado”, mas muitos dos que defendem não deixam de registrar ser contra cultura popular da boquinha da garrafa, do beijo na boca, da fujidinha. No meio da discussão, uma das poucas publicações no Facebook de Michel Teló foi dirigida ao humorista Danilo Gentili. “Nem precisa ouvir minhas musicas! Mas obrigado pelo respeito ao meu trabalho! Sem mais...” O fato é que os números impressionam. São quase 100 milhões de visualizações no You Tube, o que leva ao título de música brasileira mais acessada da história do site, sétimo vídeo musical mais visto no mundo e primeiro lugar nas paradas do iTunes em países como Itália, Espanha, Bélgica e Holanda. Agora a versão em inglês começa a tocar e a promessa é de um novo vírus Michel, ainda mais forte, durante este verão. Parada de sucesso - O jornalista sul-mato-grossense Alexandre Maciel, hoje professor da Universidade Federal do Maranhão, em Imperatriz, deu uma pitada boa ao debate. Ele pesquisou na internet o que fez sucesso no Brasil a cada década, em anos terminados no numeral 2. “Comecei com a aurora de nossa música popular, em 1932, e me deparei com o primeiro lugar de “O teu cabelo não nega”, de Lamartine Babo. Talvez hoje fosse tida como racista e de mau gosto”, comenta. No mesmo ano, Maciel lembra que entre as preferidas estavam “Mulher Indigesta”, de Noel Rosa com a frase “merece um tijolo na testa”. “O moço irônico, no auge do sucesso, teria que dar explicações não só às patrulhas do Facebook atualmente”, compara à polêmica instalada nos dias atuais com Ai se te pego na mira. Em 1942 o sucesso foi “Ai, que saudades da Amélia” de Mário Lago e Ataulfo Alves. “Outra canção que já recebeu acusações múltiplas de machismo”, comenta Alexandre. O jornalista segue até chegar em 92 com os hits “O canto da cidade”, com Daniela Mercury, “Cigana”, com Raça Negra”, “Olha Amor” com Gian e Giovani, “Brincar de ser feliz”, com Chitãozinho e Xororó, e "Barracos" (escombros) com a Banda Beijo. Em 2002 foi a vez de Kelly Key emplacar 2: “Anjo” e “Baba Baby”. Por fim, a análise de Alexandre Maciel. “A música brasileira sofreu mutações variadas, bem características de sua formação cultural. Se tornou mais imbecil? Em parte tendo a concordar que sim. Mas há uma discussão mais ampla sobre o que a mídia oferece para ser deglutido; os mecanismos de disponibilização e consumo dos sucessos, que mudaram muito e o próprio conceito do que uma letra de música deve conter”.

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