Destaques | O Estado de Minas | 08/05/2020 10h09

Regina Duarte se desculpa por silêncio em meio as perdas na cultura

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A secretária de Cultura do governo Jair Bolsonaro, Regina Duarte, se desculpou sobre seu silêncio diante das recentes perdas na cultura nacional, lamentou as consequências da COVID-19 na cena artística e minimizou a tortura durante o regime militar no Brasil, na tarde desta quinta-feira (7), em entrevista à CNN Brasil.

"A COVID-19 está trazendo uma morbidez insuportável, não tá legal", disse Regina Duarte. Questionada por não publicar mensagens sobre recentes perdas na cultura nacional, ela pediu desculpas e disse que envia carta com papel timbrado às famílias. “Pode ser que eu esteja errando. Vou me corrigir. Não fiz por mal, peço desculpas”.

Ela afirmou que foi cobrada pela assessoria de comunicação para publicação de nota desde a primeira morte. “Eu optei por mandar uma mensagem como secretária às famílias das pessoas. Eu pensei ‘será que a Secretaria vai virar um obituário?’”, indagou, dizendo ainda que não conheceu pessoalmente todos que morreram, como o compositor Aldir Blanc. “O reconhecimento ou existe ou não existe. Aldir Blanc por exemplo eu nunca estive (com ele)”.

‘Sempre houve tortura’
A secretária de Cultura afirmou que a cultura está acima de ideologias. “Pessoal de cultura não tem partido. Eu acho essa coisa de esquerda e direita estão abaixo do patamar da cultura. Tem que olhar pra frente, ser construtivo, amar o país”, disse.

Regina Duarte declarou que não concorda com a cobrança sobre o que ocorreu nos anos 60 durante o regime militar, um período de censura, perseguição a adversários políticos, prisões arbitrárias, tortura e mortes de opositores. Neste momento, o repórter Daniel Adjuto respondeu: “Foi um período muito difícil, né? Tem muita história, muita gente morreu na ditadura, essa é a questão”. Em tom de risada, a secretária acrescentou: “Na humanidade, não para de morrer. Se você fala 'vida', do lado tem morte. Sempre houve tortura. Stalin, Hitler, quantas mortes... não quero arrastar um cemitério de mortes nas minhas costas”, afirmou.

Saída de Moro
Regina Duarte também comentou sobre a demissão do ex-ministro Sérgio Moro. “Fiquei profundamente triste por ele, pelo presidente Bolsonaro, pelo povo brasileiro”, lamentou. A secretária contou que guarda foto dos dois juntos. “Muito triste, não tem outra palavra pra isso. Fiquei tão traumatizada que não quero entrar nessa história”.

Possível demissão
Ela também descartou rumores de uma possível demissão durante reunião com o presidente Jair Bolsonaro, que ocorreu na quarta-feira (6). “Eu sinto resistência da burocracia”, afirmou. “Demissão? Não, nada disso. Isso é uma narrativa que corre lá fora, pelo mundo. As pessoas parece que têm certa ansiedade de me ver fora. Demissão, exoneração, são coisas que estão rolando sempre. Agora é na carne. Em nenhum momento (foi falado em demissão). Estava um clima superbom, superanimado, feliz, leve, rindo. Ele (Bolsonaro) está sempre rindo. Ele brinca muito. Foi um momento leve, descontraído”.

A reunião contou ainda com a presença de Sérgio Camargo, apontado como principal crítico da secretária. “Eu já nem acredito mais nisso, porque as histórias são tão esparatadas, vivemos em um mundo tão distorcido por alguns veículos de comunicação, que já nem sei se ele é um antagonista meu. Seria uma pessoa que me questiona, até agressivamente. Então, não sei, porque evito me contaminar com as mídias sociais”, disse.

Ela revelou que, quando o presidente a convidou para o cargo, ele teria dito: “Tem certeza que você quer aceitar essa missão que estou te propondo?”. Regina Duarte disse que aceitaria 'para servir o governo'. “Ele disse que o jogo era pesado e que eu iria levar muita pedrada. Eu disse que tenho visto o quanto levavam pedrada. Tenho consciência limpa de que não preciso ficar me envenenando com essas pedradas. Então, não chego perto delas e elas não vão me atingir. Estou tranquila”.

CNN se posiciona após entrevista

Após a confusão durante a entrevista de Regina Duarte, a CNN Brasil divulgou uma nota lamentando o episódio.

A CNN esclarece que Regina Duarte interrompeu a entrevista exclusiva concedida ao âncora Daniel Adjuto no final da tarde de hoje, no programa CNN 360º. A interrupção aconteceu quando foi exibido um depoimento da atriz Maitê Proença, solicitado pela emissora no início da tarde de hoje, para debater as questões do setor cultural no Brasil. A secretária entendeu que o vídeo de Maitê se tratava de uma gravação antiga e decidiu encerrar sua participação. A CNN lamenta o episódio e reafirma seu compromisso de sempre ouvir todos os lados para informar melhor o país.

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