Fotografia | Da Redação/Com Campo Grande News | 01/02/2015 21h12

Fotógrafo se muda para retratar seca no sertão

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Durante 10 dias as lentes do fotógrafo Everson Cabral Gomes, de 35 anos, registraram o que é a seca e suas consequências no sertão do Piauí. De Campo Grande e membro da Terceira Igreja Batista, ele acompanhou pela terceira vez o projeto "Impacto Sertão Livre" que trabalha para furar poços e instalar dessalinizador nas cidades onde a população é totalmente esquecida e o clamor por água está nos olhos de cada um. 

O trabalho dele foi de acompanhar um pouco de cada equipe, registrando em fotos e vídeos todas as ações. Além da tentativa de levar água para a região, equipes médica e odontológica, realizavam visitas aos moradores da comunidade e missionários levavam os ensinamentos que a igreja prega.

No total, foram 400 voluntários de todos os cantos do País. Daqui, estavam Everson, a esposa e mais nove membros da igreja que ficaram na cidade de Acauã. A organização dividiu homens e mulheres em duas escolas, na espaço delas é que eram feitas as comidas do café da manhã até o jantar. "

"Nossa rotina era acordar às 6 da manhã. O café era servido das 7 às 8, depois tinha uma devocional até às 9 e depois repartiam as equipes para fazerem as atividades. E detalhe, nosso banho lá era com baldes, tínhamos direito a dois baldes de 12 litros por dia para tomarmos banho, sendo 1 de manhã e outro à noite", descreve.

A frase, claro, espanta. A restrição de dois baldes de banho por dia, vindos do caminhão pipa que abastecia as escolas, revela o quão carente é a região e mais, a água que eles usavam para a higiene, era a que população encontrava para consumo. "A situação lá é tão crítica que pra você ter uma ideia, a água que usávamos para tomar banho, para muitas famílias era a que eles usavam para consumo", pontua.

No contexto da falta de água em São Paulo, pautada na mídia todos os dias, Everson diz que sentiu na pele uma realidade muito pior e muito menos divulgada. "São Paulo parece mais com nossa realidade certo!? O Nordeste não é visado como grande centro comercial, isso nos separa um pouco da realidade do Sertão. Lá falta água e muitos não têm condições de comprar um caminhão pipa com água potável para consumir. Eles consomem água não potável", explica.

O que mais assusta na experiência é ver que assim como a ausência de água, também falta futuro ali. "Ninguém tem nenhum sonho sabe? Não tem expectativa na vida, lá tem meninas de 12, 14 anos que já são mães então isso impressiona demais. Você chegar numa casa e ver que não tem nem o que comer e muitos não sabem quando será a próxima refeição corta o coração..."

Everson já planeja ir à próxima edição. A cada volta dele, o sentimento de que precisa ajudar mais e mais toma conta. "Temos que olhar mais pra esses povos sabe, chegar num lugar onde ninguém tem esperança em nada e depois de alguns dias ali a gente vê o sorriso de gratidão não tem preço no mundo que pague. Reclamamos demais pelo pouco que temos, mas o pouco que temos pra eles é riqueza total".

As fotografias registram o trabalho, o sorriso de gratidão, a paisagem do local e mostram que em meio ao sofrimento existe beleza:

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