Projetos buscam troca de saberes entre a UFGD e a cultura indígena
A Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) realiza dezenas de atividades e projetos de extensão nas escolas e comunidades indígenas, não somente em Dourados, mas em todo o Cone Sul do Estado de Mato Grosso do Sul. Grande parte dessas atividades está relacionada à formação de professores capacitados para dar aulas nas escolas indígenas. Também há muitas ações para qualificar docentes que trabalham em escolas em realidade urbana, para que saibam contextualizar o ensino sobre cultura indígena dentro da estrutura curricular.
A comunidade acadêmica também desenvolve outros projetos, voltados para a melhoria da qualidade de vida das populações indígenas. Entre eles, o projeto de criação de composteiras e de produção de mel de abelhas. Ambas as iniciativas são de professores da Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais (FCBA).
A professora Danielle Marques Vilela começou em 2011 um projeto para implementar composteiras dentro das comunidades indígenas de Dourados. Sua proposta inicial era levar o projeto para as famílias indígenas, mas logo a ideia foi adaptada para contemplar também as escolas, abordando crianças e jovens. Ao longo desses quatro anos de atividades, já foram organizadas composteiras e hortas nas duas escolas da aldeia Jaguapiru. No entanto, por falta de estrutura na aldeia – em especial falta de água –, o projeto está parado.
Mesmo diante das dificuldades, a professora entende que o projeto pode ser relevante para as aldeias, já que o sistema de coleta de resíduos sólidos é precário e o acúmulo de lixo é fator causador de doenças. E, além de dar conta de uma grande parte do lixo, o sistema de compostagem ainda gera adubo e estimula o cultivo de hortaliças e legumes, incrementando a alimentação dessa população exposta à insegurança alimentar.
Dificuldades e potencialidades - Felipe Varussa de Oliveira Lima é doutorando e docente voluntário na UFGD e coordena o projeto de extensão para produção de mel nas aldeias. O projeto leva em consideração a tradição indígena na criação de abelhas sem ferrão e busca valorizar esses conhecimentos para estimular a produção de mel – tanto para que esse alimento esteja à disposição das famílias indígenas quanto para que possa gerar renda por meio da venda do excedente do produto.
O professor chama a atenção para as peculiaridades de trabalhar com as comunidades indígenas. “Os indígenas costumam assimilar ou rechaçar um projeto externo de acordo com o contato que é estabelecido. Nesse contato entre indígenas e não-indigenas muitas vezes se estabelece uma relação assimétrica, em que o conhecimento científico se impõe como superior ao conhecimento tradicional. Nessas situações, o projeto tende a não ter resultados satisfatórios”, explica ele.
Antes de começar o projeto de extensão, Felipe, que é biólogo, buscou o contato com antropólogos, professores e alunos da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND). Por meio dessa pesquisa inicial, ele pôde ter contato com o conhecimento tradicional dos indígenas sobre as abelhas, a forma como eles identificaram e nomearam diferentes espécies, e como as abelhas e o mel fazem parte das tradições religiosas e da cosmovisão dos guaranis. Assim, foi possível estabelecer diferentes estratégias para trabalhar extensão em cada comunidade indígena.
Felipe se sentiu desafiado a sair do seu campo de atuação específico para buscar conhecimentos de áreas muito distintas e conseguir elaborar o projeto. Na opinião do professor, a academia precisa reconhecer que a formação compartimentada em áreas do saber gera grande dificuldade em dialogar com diferentes culturas.
O professor também lembra que o resultado de um projeto de extensão nem sempre pode ser medido em números ou condições materiais, como geração de renda ou empregabilidade. Na opinião dele, um projeto de extensão com comunidades indígenas já será extremamente exitoso se conseguir fazer com que os pesquisadores assimilem o conhecimento tradicional. Melhor ainda é quando o projeto consegue dar retorno para a comunidade, demonstrando a essas pessoas que a matriz de saberes dos indígenas tem seu valor como conhecimento. “O projeto de extensão é uma oportunidade de promover o diálogo entre os conhecimentos científico e popular”, avalia o docente.
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