Resenha: Novo livro de Edílson Pereira fala de um capitão gay banido pela ditadura
Por Luiz Taques
O jornalista Edílson Pereira é também escritor e dramaturgo. Ele nasceu em Oriente, no interior paulista, mas mora em Curitiba, no Paraná. Trabalhou em O Diário do Norte do Paraná, Agência Folhas, Folha de Londrina, O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná. Ganhou o Prêmio Paraná de Jornalismo em 1985 e 1986 e o Prêmio Funarte de Dramaturgia em 2003 e 2004. Edílson Pereira é considerado um dos melhores autores de romances policiais da atualidade. Deve ter mais de quinze livros publicados.
Dos volumes que li, o último deles, “Mi Puerto Viejo Querido”, acho o mais primoroso. Porque o autor, além de fazer uma radiografia caprichada da ditadura civil-militar brasileira, revela-nos que, por trás do machismo fardado, havia, e, certamente ainda há, muito homossexualismo enrustido e malvado.
Acompanhamos pela obra de Edílson Pereira, lançada no primeiro semestre deste ano, a trajetória do personagem Policrates Villela de Almeida, um carioca de 29 anos, branco, lindo e forte. Era capitão do exército e homem de poucas palavras. Que foi pego transando com um subalterno. Por essa “indisciplina” quase que imperdoável na caserna, sofreu um corretivo: a transferência do Rio de Janeiro, para Manaus. Sucedia que a cidade amazonense era um lugar distante e isolado, e, mesmo que, para dar seu sangue pela pátria, para lá, um milico charmoso e em ascensão na carreira não queria ir de jeito nenhum.
Aí, veio o golpe de Estado, e o capitão Policrates – sujeito culto, cabelos lisos e de um metro e setenta e três centímetros de altura – sofreu outro castigo: foi enviado de Manaus, para ser o interventor de Rondônia. Ele passou, então, a morar em Porto Velho.
Ali, ele prendeu e destituiu autoridades. Impôs o medo. Forçava detidos, em nome do regime de exceção, a fazer sexo com ele. E foi um desses presos que conseguiu escapar das garras libidinosas do capitão e revelar que ele era pederasta. Bastou uma pessoa abrir a boca para que várias outras histórias lascívias, e que repousavam submersas nas águas do belo rio Madeira, começassem a emergir.
Diversos artistas, militantes de esquerda, servidores públicos e estudantes sofreram com as prisões políticas do capitão do exército, que tomou, também, medidas moralizadoras “em nome da ordem e do progresso”, proibindo, por exemplo, bailes e brincadeiras dançantes em Porto Velho.
Quando os seus serviços de intervencionista não interessavam mais ao regime militar, Policrates Villela de Almeida foi mandado de volta a Manaus e, em seguida, para o Rio de Janeiro. De retorno à Cidade Maravilhosa, não ganhou promoção. Na verdade, foi colocado a escanteio, pelos superiores, indo precocemente para a reserva remunerada. E o mais cruel: acabou covardemente morto por um parceiro da noite. Morava sozinho. Encontrava-se quase nu na cama, com a barriga para baixo. A cueca que usava, de cor vermelha, estava arreada. Tinha apenas 42 anos de idade.
A obra “Mi Puerto Viejo Querido”, de Edílson Pereira, é baseada em relatos orais sobre um oficial do exército nomeado interventor do então território de Rondônia. Posteriormente, porém, todos os registros oficiais da passagem dele pela região amazônica desapareceram.
Do banimento, não escapou nem mesmo a fotografia daquele capitão, gay e opressor, da galeria dos ex-governantes de Rondônia.
Entre os principais romances policiais de Edílson Pereira, destacam-se “Tua morte será minha vingança”, “O perfume de Lorena Maldini” e “Sangue na sessão noturna do cine Maringá”.
Serviço
“Mi Puerto Viejo Querido”
Autor – Edílson Pereira
Editora – Selo Cartagena das Índias/ Editora Baskerville.
Páginas – 221
Preço – R$40,00
Pode ser adquirido pelo e-mail: editorabaskerville@gmail.com.
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