Poesia | Da redação | 21/11/2016 14h53

Sérgio Vaz, o Poeta da Periferia, encanta público do 17º Proler

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Um grande sarau literário com declamações de poesias e muito rap. Foi assim a palestra com Sérgio Vaz, realizada na noite desta sexta-feira (18) na Plataforma Cultural (Avenida Calógeras, 3015) durante o 17º Encontro do Proler. O tema da palestra foi “Literatura das ruas – Como os Saraus que se proliferam nas periferias tem contribuído na formação de novos leitore(a)s e poetas/escritore(a)s no país”.

Sérgio Vaz é hoje um dos nomes que estão fazendo a periferia paulistana sonhar e ao mesmo tempo realizar. Autor de Pensamentos Vadios (1999), A Margem do Vento (1995) e Subindo a ladeira mora a noite (1992), ele fala que é poeta e acha que faz poesia. É formado nas ruas, começou a escrever poesia em papel de pão e aprendeu tudo que sabe nos livros e no Bar e Empório Gurarujá, atual bar do Zé Batidão, onde acontecem os saraus da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), a qual fundou em fevereiro de 2001 juntamente com outros artistas em uma fábrica desativada. Meses depois, criou o Sarau da Cooperifa com o poeta Marco Pezão, que deflagrou um dos maiores movimentos literários de São Paulo: a Literatura periférica, além disso, é o criador da Semana de Arte Moderna da Periferia.

A noite foi iniciada com o rapper General R3, que faz poesia engajada em problemas sociais. Ele declamou uma poesia falando sobre o espaço onde aconteceu o evento, na antiga esplanada ferroviária. “Eu tenho intenção de poetizar o mundo”, disse.Logo depois, o secretário de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Athayde Nery, desejou boa noite a todos os presentes. “Boa noite pessoal, tem gente de Dourados aqui. Estudei Direito lá, a cidade está dentro da minha alma. Seja bem-vindo, Sergio Vaz, neste Estado que tem a segunda maior população indígena do Brasil. Nesse Estado precisamos estar olhando para criar uma ponte com a cidadania. Eu era amigo pessoal de Manoel de Barros. Viva Manoel, Viva Vaz, viva a poesia”. O secretário declamou a poesia “O fazedor de amanhecer, de Manoel de Barros.

O sarau literário teve continuidade com o rapper Falcão, que faz poesia de rua desde 003 em Campo Grande. Ele declamou poesia de sua autoria, e depois, com seu parceiro Juca Matos, cantou o rap “A dama guerreira”. Juca também declamou uma poesia. O rapper do Marco MCs interpretou a música “Penitência”, e o rapper Paulinho também fez sua participação com “Picos de Esperança” e “Casa dos Ossos”.

O bate-papo com Sérgio Vaz começou com o palestrante desejando boa noite aos presentes e contando sobre sua história e sua trajetória na área da literatura e poesia. “Agradeço o convite para estar aqui, ao pessoal do rap, ao secretário Athayde Nery, que é poeta também. Eu vim da zona sul de São Paulo, Capão Redondo, meu pai veio de Minas para São Paulo e levou com ele o hábito da leitura. Meu sonho era ser jogador de futebol. Ainda é. A gente morava no cortiço, meu pai tinha uma estante com livros. O primeiro livro que eu tentei ler foi ‘Eram os deuses astronautas’. Não entendi nada do que estava escrito ali. Meu pai, vendo aquilo, passou a ir nos sebos e comprar livros infantis”.

Sérgio diz que a literatura chegou para ele por ser um cara muito tímido. “Eu comecei a me interessar por leitura mas não gostava muito de poesia. Tinha um preconceito na periferia que poesia não pegava bem E achava que o poeta acordava de manhã e dava bom dia pro sol, pra lua, era muita frescura. Em 1986 entrei pro Exército e frequentava os bares ‘black’ de Sã Paulo. Só que intuitivamente comecei a prestar atenção na Música Popular Brasileira. Eu estava um dia cantando no quartel a música ‘Pra não dizer que não falei das flores’, versão da Simone, que eu ouvia, aí o sargento entrou no quarto e disse que aquilo era coisa de comunista”.

Mais tarde, Sérgio saiu do quartel e entrou no grupo de música do seu bairro. “Só que eu não sabia nem cantar nem tocar. O pessoal me colocou para tocar côco. Depois, comecei a fazer as letras e a poesia começou a fazer sentido para mim. Lia Neruda, Lorca. Quando escrevi meu primeiro livro em 1988, ninguém comprou. Foi meu primeiro choque. Tive a ideia de fazer a Semana de Arte Moderna da Periferia em 2001. Começamos a nos encontrar toda quarta e fazer sarau no bar, fazer poesia e trocar uma ideia. Muita gente foi aparecendo, o negócio foi crescendo, a comunidade foi se interessando por poesia, daí fizemos uma biblioteca dentro do bar. Quando tiramos a literatura do pedestal, ela começou a fazer sentido para nós”.

Foram mais de cem saraus em São Paulo. “Nessa ideia de sarau surgiu a literatura periférica. É a nossa voz, que veio a reboque do hip hop. É necessário falar de alguns assuntos que os autores não falam, como a fome, pobreza, a cultura do estupro, misoginia, racismo. Só é justo cantar quando a sua voz arrasta quem não pode falar. A biblioteca é onde se alugam asas”.

Sérgio declamou sua poesia “Os miseráveis: a história do bandido rico e do bandido pobre”. Depois as pessoas participaram com perguntas e também contaram um pouco da sua história. Este bate-papo foi recheado de muita declamação de poesias e aplausos de entusiasmo. O palestrante enfatizou o carinho com que foi recebido na Cidade Morena. A noite foi encerrada com mais rap e poemas.

Neste sábado, o Proler continua com um bate-papo com escritores regionais e nacionais às 16h30, no Sesc Morada dos Baís. Participarão os escritores Rose Bragato, Silvia Cesco e Fábio Gondin, de MS, e Sheyla Smanioto (vencedora do Prêmio Sesc de Literatura 2015 na categoria Romance) e Marta Barcelos (vencedora do Prêmio Sesc de Literatura 2015 na categoria Contos).

Junto com o bate-papo com escritores serão lançados os livros “Desenvolvendo a Competência em informação”, do professor Rodrigo Pereira e “ Os meninos da colina” do professor Ravel Paz.

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