Cantar no palco do Fasp foi uma conquista para o grupo indígena de rap de Dourados
Um dos líderes do grupo Brô MC’s, formado por cinco indígenas guarani-kaiowá das aldeias Jaraguapiru e Bororó, de Dourados, Bruno Veron, 24, estava emocionado ao final do show apresentado na segunda noite do Festival América do Sul Pantanal (Fasp), nessa sexta-feira. Subir a palco de um dos maiores eventos da cultura sul-americana e ainda dividir o espaço com o “rei” do rap Criolo, foi um prêmio para esses jovens.
“Depois de dez anos de carreira, esse show no festival foi uma conquista, a gente nunca pensava em se apresentar para um grande público, foi muito massa”, disse Bruno, ao final do show no Palco da Integração, cercado por jornalistas e fãs. “A gente está emocionado sim pela receptividade do público, que entendeu a nossa mensagem onde mostramos a realidade do índio. É a primeira vez que temos esse reconhecimento no Brasil”, aponta ele.
O primeiro grupo de rap indígena brasileiro, formado por Bruno Veron, Clemerson Batista, os irmãos Kelvin e Charlie Peixoto e a novata Dani Muniz, participou do Fasp 2018 depois de se apresentar durante uma semana em Frankfurt, na Alemanha, a convite do Weltkultoren Museu. “A gente ganhou na Alemanha a valorização que não temos aqui, mas hoje foi diferente. Estar no palco do festival representando nosso povo foi o máximo”, revelou Bruno.
É lutar pra vencer!
Os garotos do Brô MC’s não enfrentaram apenas a falta de apoio, mas a rejeição da mídia e do público à proposta de difundir e se apropriar de um ritmo do branco pela etnia e o questionamento dentro da própria aldeia pelos caciques. Mas eles tiveram persistência para vencer os obstáculos naturais e ganharam fama cantando – e denunciando – o cotidiano dos guarani kaiowá. A luta pela terra, a violência, consumo de drogas, prostituição e alcoolismo.
“É lutar para vencer os obstáculos da vida, é lutar para vencer”, diz o refrão de uma das canções que retrata o drama da tribo e a questão da identidade indígena. “É isso ai, mano, viva essa molecada mil grau”, diz Kelvin, feliz no palco. “Salve o Corinthians, né mano”, arrisca mencionar numa cidade que prefere o futebol carioca e a maioria torce por Flamengo e Vasco. Mas o público não reagiu, ao contrário, aplaudiu o indígena, repetindo sua coreografia.
O grupo mistura português e guarani em suas músicas para mostrar a realidade do seu povo, que enfrenta altos índices de suicídio por conta da perda da identidade e pressão urbana – as aldeias, em sua maioria, estão cercadas pela cidade. Após o lançamento do primeiro CD, o trabalho até então escondido do grupo foi aceito pelas lideranças. “Hoje eles apoiam nosso trabalho e ajudam com as histórias, com o que querem falar”, lembra Bruno Veron.
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