Turismo | Da redação | 21/08/2017 11h32

Novo perfil de turista em MS motiva trade a qualificar e garantir atendimento diferenciado

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A presença de um grupo de adeptos ao esoterismo visitando paraísos ambientais de Mato Grosso do Sul, como a Serra do Amolar (Pantanal de Corumbá) e a Serra da Bodoquena, no início de agosto, abre novas perspectivas para diversificação do turismo regional. Também serviu de experimento para se organizar e trabalhar melhor um produto novo para um público de um perfil mais específico, diferenciado – e muito exigente.

Esta é a conclusão dos empresários que atenderem o grupo formado por 11 pessoas, incluindo dois lamas budistas da Nova Zelândia e seguidores brasileiros residentes em São Paulo de uma filosofia de vida chamada “mindfulness” (atenção consciente plena), cujos ensinamentos buscam mais qualidade de vida por meio da meditação e o autoconhecimento. A observação de aves é outro nicho de mercado que se desperta no Estado e atrai brasileiros e estrangeiros.

Preparar mão de obra

A vinda dos lamas e seus discípulos com foco em um turismo de contemplação com imersão profunda na natureza em volta para ouvir o silêncio e o murmurar dos seres vivos, mostrou que é preciso planejar melhor os roteiros respeitando modos, hábitos alimentares e a leveza dos ritmos em cada atividade. Para isso, segundo o empresário João Venturini, da Pousada São João, na Estrada Parque (Corumbá), é preciso qualificação da mão de obra.

”Sem dúvida, é um turismo diferenciado, que tem tudo para crescer no Estado. Como outras modalidades que estão despontando, os grupos motorizados, os observadores de pássaros e até aqueles que acreditam em disco voador”, aponta. “O mercado deve se preparar para esse novo momento; falta ainda profissionalismo entre contratante e contratado, um bom receptivo e mão de obra qualificada para entender esse novo perfil de visitantes.”

A permanência dos esotéricos por dois dias na Pousada Acurizal, RPPN situada nas encostas da morraria do Amolar, distante 230 km pelo rio Paraguai de Corumbá, foi um aprendizado, segundo o relações institucionais do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), ong que gerencia o lugar, Ângelo Rabelo. “A partir dessa visita, vamos construir roteiros que permitam ao turista interagir com essa natureza selvagem e possa sentir a energia que a região erradia.”

Atenção no atendimento

Para o diretor-presidente da Fundação de Turismo de MS (Fundtur), Bruno Wendling, a questão central é o trade adaptar-se ao tipo de motivação gerada por turistas não tradicionais, geralmente em pequenos grupos, como hábitos, consumo e atividades. “Temos os produtos já estruturados e potencial para receber novos segmentos de turista. Precisamos, porém, ficar atentos a estas pequenas adequações para atender demandas de grupos singulares”, pontuou.

A viagem dos adeptos ao budismo foi organizada pela empresária de turismo de Miranda, Fátima Cordella, uma das pioneiras no setor, com o apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur-MS). Ela propõe a realização de um encontro para discutir as novas demandas e ferramentas para que o trade esteja preparado para receber estes grupos. “O caminho está aberto, precisamos roteirizar os destinos”, diz.

O turismo esotérico – ou “esoturismo” – atrai milhares de pessoas em todo o mundo e o roteiro percorrido durante oito dias pelos lamas e seus alunos apresentou três situações de vivência com a natureza que podem ser comercializados futuramente, segundo Fátima Cordella. “Eles amaram os cenários que visitaram, a Estrada Parque, o Pantanal e as cachoeiras das Bodoquena, e devemos nos preparar para criar produtos de qualidade”, ressalta.

Contemplando o silêncio

A visita do grupo mostrou algumas particularidades, pelas quais as estruturas de hospedagem devem estar preparadas. Como o preparo de comida sem glúten – quebra torto, nem pensar! -, muitas frutas, água quente para seus chás diários e uma exigência que surpreendeu os funcionários da São João: apagar as luzes à noite para avistaras estrelas e meditação plena. Mas, se há outro grupo de turistas no local, como conviver com esta situação?

Os esotéricos da Nova Zelândia – lamas Tarchin Hearn, sua esposa Mary Jenkins e Jangchub Reid, que passa uma temporada no Brasil pregando o “mindfulness” – e de São Paulo fazem retiros pelos lugares que visitam, em plena conexão com o ambiente ao redor. No Pantanal e na Bodoquena preferiram a meditação no simples caminhar, preguiçosamente, em grupos ou individualmente, contemplando a revoada dos pássaros, as pegadas de animais, o silêncio…

Na São João, fizeram cavalgada, observaram as aves, em especial as araras azuis, e um passeio de barco pelo Rio Miranda. No safari pela Estrada Parque, se empolgaram com uma pegada de onça-pintada. Na Acurizal, se empolgaram com a variedade de bichos, desde as saúvas e aranhas aos cantos dos pássaros, na caminhada por uma trilha de 5 km, culminando num riacho de água cristalina que desce da morraria. Na Bodoquena, banharam-se nas cachoeiras.

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