Índios vendem peças históricas para turistas
A comunidade indígena da Terra Preta, no baixo Rio Negro, no Amazonas, criou um “ceramódromo” para vender a turistas, principalmente estrangeiros, pedaços de cerâmica do período pré-colonial. O local tem até placa em inglês para receber os turistas. A venda de peças arqueológicas, porém, é ilegal. A vila indígena fica à beira do Rio Negro, a cerca de três horas de barco de Manaus. O local é famoso pela grande quantidade de cacos de cerâmica de desenhos elaborados que aflora à terra. Segundo o índio Mario Carlos, da etnia baré, pesquisadores que já estiveram na comunidade estimaram em pelo menos 800 anos o período em que peças de cerâmica foram produzidas –três séculos antes da chegada dos portugueses ao Brasil. O material é obra dos “koshima wara” (os antigos que habitavam o local), afirma. “O turista sempre compra. Sai por R$ 10, R$ 15, até R$ 50. Depende da peça”, disse Carlos, que fala português com alguma dificuldade apesar de há 20 anos morar na Terra Preta. Os turistas costumam pagar sem reclamar dos preços. “Tem uns que dizem que é caro, mas a maioria não reclama.” De acordo com ele, os turistas que mais visitam a vila são dos Estados Unidos, Alemanha, Japão e França. Entre os brasileiros, a maioria vem de São Paulo. Falar com os estrangeiros não é problema, explica. “Falo um ‘poquito’ de espanhol”, afirmou o índio ao site G1. Para comercializar as peças arqueológicas, a comunidade criou uma espécie de oca na entrada da comunidade com divisões internas semelhantes a barraquinhas de camelôs, onde os índios vendem os cacos de cerâmica e artesanato. Cada espaço é numerado. Uma placa em nhengatu, a língua dos barés, com tradução em um inglês com erro de grafia, saúda a chegada dos turistas. Segundo o coordenador de Gestão Turística da Manaus Tur, Jean Fabrízio, vender peças arqueológicas é crime. Para tentar coibir a prática, a Manaus Tur tenta implementar na comunidade um projeto de estímulo ao turismo aliado à preservação do patrimônio cultural. A idéia é fazer com que os índios organizem uma exposição com as peças mais representativas encontradas na Terra Preta e cobrem ingresso para os turistas apreciarem as obras de seus antepassados. Além disso, eles produziriam réplicas do material encontrado, que seriam vendidas. “Eles ganhariam duas vezes”, diz Fabrízio. “Mas é um trabalho de conscientização lento.” A comunidade da Terra Preta tem 29 famílias de quatro etnias, caso raro entre índios. Na vila, que fica no alto de um morro íngreme, vivem barés (etnia mais comum no Amazonas), tukanos, baniwas e tarianos. Em geral, todos falam o nhengatu, já que os barés representam 90% da população da comunidade. Os restos de cerâmica surgem à flor da terra na comunidade da Terra Preta. Em cinco minutos de procura, a equipe do site G1 encontrou mais de dez pedaços de cerâmica antiga, alguns com desenhos em baixo relevo e pinturas. Na Amazônia, há sítios arqueológicos onde esse tipo de achado é comum. Esses sítios são chamados de terra preta devido à cor escura do solo. Estudos indicam que o escurecimento da terra nessas áreas se deve ao acúmulo de material orgânico provocado por longos períodos de ocupação.
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