Primeiro festival de jazz e viola tem chamamé, polca paraguaia e também tango
A noite foi completamente instrumental, mas os ritmos foram diversificados. No primeiro festival de jazz e viola de Mato Grosso do Sul teve tango, chamamé e até polca paraguaia. Uma junção equilibrada, que deixou o público à vontade e garantiu um evento mais intimista. Não tão longe da tranquilidade característica das obras eruditas, nem tão perto da música raiz
A abertura aconteceu na noite desta terça-feira (18), no Teatro Aracy Balabanian, em Campo Grande. A casa, para alegria dos músicos, dos parceiros e organizadores, ficou lotada. Quase não sobraram espaços.
O guitarrista, violonista e violeiro Marcos Assunção deu início à apresentação. Dividiu o palco com os violeiros Igor Canaziles e Júlio Borba, o baterista Guto Costa e o baixo Gabriel Basso.
Único músico a tocar um instrumento de sopro, um saxofonista, posicionado à direita do palco, na parte de trás, garantiu o som característico do jazz, em arranjos e solos que fizeram a plateia vibrar.
À frente, no centro, Marcos deixou evidente a paixão pela música e mostrou a que veio. De olhos fechados, sem qualquer partitura, dominava as cordas do violão com maestria. A agilidade com que executa as notas é de impressionar.
Mas o violeiro escolheu uma música lenta para iniciar a noite. Só aumentou o rítmo na segunda composição. A euforia foi tanta que deixou cair o chapéu. "Não teve jeito, eu tive que mostrar porque estou usando chapéu. Meus cabelos estão caindo", brincou.
Ao anunciar o primeiro violeiro convidado, o músico agradeceu os parceiros e ressaltou que seria impossível promover o evento sem a presença de grande músicos. Disse ainda que a união de forças e ideais foi responsável pelo sucesso do evento. "É impossível fazer um festival sem apoio ou parceria", afirmou.
Depois, com o grupo, tocou o mesmo repertório executado no ano passado, quando representou Mato Grosso do Sul no 9º Festival Tensamba, em Madri, na Espanha. Ao final, foi aplaudido de pé.
Na sequência, o violonista Marcelo Loureiro subiu ao palco. Agradeceu os convidados e também comentou a dificuldade para a realização de eventos do gênero. "Tudo é muito difícil quando se fala em música de qualidade", pontuou.
As primeiras músicas, tocadas no violão, encantaram pela perfeição, autenticidade e a animação com que foram executadas. A sensualidade do tango também chegou pelas cordas, em uma sequência de tirar o fôlego.
No mesmo estilo, sem perder a euforia, Marcelo apresentou uma sequencia de chamamé. Na viola, acompanhado de Magno Abreu, interpretou "Cidade Morena" e sucessos de Almir Sater, como "Corumbá" e "Luzeiro", que já foi tema de abertura do Globo Rural.
Por fim, na harpa, se rendeu à polca paraguaia, em um dos temas mais conhecidos: "Pajaro Campana". Atendendo ao pedido de bis, Loureiro voltou ao palco e, no violão, tocou Mercedita. Sem fugir à regra, marca registrada no Estado, o que mais se ouviu foram gritos no teatro.
Pela quantidade de gente que prestigiou o evento, a análise não poderia ser outra. Para Marcelo Loureiro, Campo Grande tem púbico para apresentações do gênero. O que falta, talvez, é incentivo.
"Isso é o começo de uma grande caminhada. Temos que fazer com que este festival de música acabe atraindo um público fiel que vai sempre consumir essa música", disse, em entrevista ao Lado B.
A proposta de unir a música raiz à erudita pode auxiliar na aproximação e na eliminação de conceitos pré-estabelecidos. "Isso, de alguma forma, traz curiosidade. As pessoas acabam vindo para ver", declarou.
O idealizador do projeto, Marcos Assunção, pensa da mesma forma e afirma que a ideia é fortalecer o festival para que o evento se torne conhecido nacionalmente. A música produzida aqui, disse, deve ser valorizada. "Esse festival veio para unificar fronteiras", resumiu.
Sobre a junção musical, o músico diz que a ideia surgiu do próprio trabalho e da singularidade do Estado.
Quem assistiu, teceu elogios. Para a funcionária pública federal Anita Borba, de 55 anos, a qualidade musical garantiu o sucesso da apresentação que ela considerou "o maior presente do ano".
"Espero que aconteça mais eventos como esse", disse, ao comentar que a junção da música erudita com a raiz deixou o festival ainda mais envolvente. "Foi uma idéia fantástica", avaliou.
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